sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

FECHADA PARA BALANÇO

Uma amiga querida enviou-me esse texto que reflete como vivo esse momento da minha vida! E apesar de estar há quase 2 anos sem postar, esse texto me tocou.

 Fechou. Fechou para balanço. Esperou o último sair para baixar as portas. Fechou-se como quem sela uma carta, devagar. Lá dentro, um silêncio imenso assentou-se. Olhou para toda aquela bagunça, começou a experimentar uma sensação inédita, começou a enxergar uma certa paz abraçando o seu próprio caos. 

Começou a ouvir um som desconhecido. Pela primeira vez na vida ela estava ouvindo a voz de uma amiga antiga, uma voz não, um sussurro baixinho. Pela primeira vez na vida ela escutava a própria voz. Uma voz linda, a quem se arrependia não ter dado mais ouvidos. Começou analisando com calma as receitas e despesas daquele período. Ganhou mais do que perdeu? Investiu mais do que obteve retorno? Acreditou demais em seus sonhos? O amor pede investimentos altos. Você só percebe isto depois que pagou, depois que se deu como garantia.

Um dia a conta vem, já dizia sua mãe. Na conta apertada, nos cálculos que não batem, entendeu que os estragos não tinham sido suficientes para fechar as portas definitivamente, mas quase. Antes de seguir, precisava quitar todas as dívidas, dizer o que ainda estava para ser dito. Mesmo que não fosse mudar nada, mesmo que não suavizasse suas perdas, suas despesas emocionais, precisava dizer. Aquele peso não era só dela para carregar sozinha. “Deixe que ele carregue também alguns dos encargos”, aconselhou aquela voz curtinha.

 Após entender a dimensão do estrago, a fundura para onde suas próprias escolhas cegas a levaram, começou a enxergar que em meio ao caos, também havia estoque. Doze, quem sabe quinze, caixas de amor próprio! Quem diria? Anotou num pedaço de papel uma lista de tudo que poderia lhe salvar, de tudo que tinha sobrado de si.

Anotou ali os poucos amigos que não desistiram da sua companhia e também o seu gosto esquecido pela leitura. Logo abaixo enumerou todas as caixas que continham o que a trazia para mais perto de si: ficar em silêncio ao pôr do sol, tomar vinho enquanto cozinha só para si, massagear os próprios pés assistindo pela quinta vez seu filme preferido. Sim, ainda havia em estoque muito para se descobrir sobre aquela mulher contida.

As portas permanecem abaixadas. Antes de seguir, precisa estar certa de seus próximos passos. Havia uma voz, pequenininha, crescendo e crescendo mais. Fechada para balanço ela se aceitou sozinha, mas não solitária. Estava no lucro. Sozinhos é que descobrimos que às vezes a melhor companhia já mora em nós.

Fonte:  http://palavracronica.com/2014/02/05/fechada-para-balanco/

sábado, 8 de setembro de 2012

Ecologia Interior


Esse é um lindo texto de Frei Beto, que foi enviado pelo meu pai.

Compartilho com vocês, leitores.
Boa noite =)

 
Por um minuto, esquece a poluição do ar e do mar, a química que contamina a terra e envenena os alimentos, e medita: como anda o teu equilíbrio eco-biológico? Tens dialogado com teus órgãos interiores? Acariciado o teu coração? Respeitas a delicadeza de teu estômago? Acompanhas mentalmente teu fluxo sanguíneo? Teus pensamentos são poluídos? As palavras, ácidas? Os gestos, agressivos? Quantos esgotos fétidos correm em tua alma? Quantos entulhos - mágoas, ira, inveja - se amontoam em teu espírito?
 
Examina a tua mente. Está despoluída de ambições desmedidas, preguiça intelectual e intenções inconfessáveis? Teus passos sujam os caminhos de lama, deixando um rastro de tristeza e desalento? Teu humor intoxica-se de raiva e arrogância? Onde estão as flores do teu bem-querer, os pássaros pousados em teu olhar, as águas cristalinas de tuas palavras? Por que teu temperamento ferve com freqüência e expele tanta fuligem pelas chaminés de tua intolerância? Não desperdiça a vida queimando a tua língua com as nódoas de teus comentários infundados sobre a vida alheia.
 
Preserva o teu ambiente, investe em tua qualidade de vida, purifica o espaço em que transitas. Limpa os teus olhos das ilusões de poder, fama e riqueza, antes que fiques cego e tenhas os passos desviados para a estrada dessinalizada dos rumos da ética. Ela é cheia de buracos e podes enterrar o teu caminho num deles. Tu és, como eu, um ser frágil, ainda que julgues fortes os semelhantes que merecem a tua reverência. Somos todos feitos de barro e sopro. Finos copos de cristal que se quebram ao menor atrito: uma palavra descuidada, um gesto que machuca, uma desconfiança que perdura.
 
Graças ao Espírito que molda e anima o teu ser, o copo partido se reconstitui, inteiro, se fores capaz de amar. Primeiro, a ti mesmo, impedindo que a tua subjetividade se afogue nas marés negativas. Depois, a teus semelhantes, exercendo a tolerância e o perdão, sem jamais sacrificar o respeito e a justiça. Livra a tua vida de tantos lixos acumulados. Atira pela janela as caixas que guardam mágoas e tantas fichas de tua contabilidade com os supostos débitos de outrem. Vive o teu dia como se fosse a data de teu renascer para o melhor de ti mesmo - e os outros te receberão como dom de amor. Pratica a difícil arte do silêncio. Desliga-te das preocupações inúteis, das recordações amargas, das inquietações que transcendem o teu poder.
 
Recolhe-te no mais íntimo de ti mesmo, mergulha em teu oceano de mistério e descobre, lá no fundo, o Ser Vivo que funda a tua identidade. Guarda este ensinamento: por vezes é preciso fechar os olhos para ver melhor. Acolhe a tua vida como ela é: uma dádiva involuntária. Não pediste para nascer e, agora, não desejas morrer. Faz dessa gratuidade uma aventura amorosa. Não sofras por dar valor ao que não merece importância. Trata a todos como igual, ainda que estejam revestidos ilusoriamente de nobreza ou se mostrem realmente como seres carcomidos pela miséria.
 
Faz da justiça o teu modo de ser e jamais te envergonhes de tua pobreza, de tua falta de conhecimentos ou de poder. Ninguém é mais culto do que o outro. O que existem são culturas distintas e socialmente complementares. O que seria do erudito sem a arte culinária da cozinheira analfabeta? Tua riqueza e teu poder residem em tua moral e dignidade, que não têm preço e te trazem apreço. Porém, arma-te de indignação e esperança.
 
Luta para que todos os caminhos sejam aplainados, até que a espécie humana se descubra como uma só família, na qual todos, malgrado as diferenças, tenham iguais direitos e oportunidades. E estejas convicto de que convergimos todos para Aquele que, supremo Atrator, impregnou-nos dessa energia que nos permite conhecer a abissal distância que há entre a opressão e a libertação.
 
Faze de cada segundo de teu existir uma oração. E terás força para expulsar os vendilhões do templo, operar milagres e disseminar a ternura como plenitude de todos os direitos humanos. Ainda que estejas cercado de adversidades, se preservares a tua ecobiologia interior serás feliz, porque trarás em teu coração tesouros
 

"Não conseguimos segurar uma tocha para iluminar o caminho de outra pessoa, sem clarearmos o nosso própio."
  BEN SWEETLAND
 

sábado, 28 de julho de 2012

Poesia do Dia


Encontro de dois.
Olho no olho.
Cara a cara.
E quando estiveres perto
eu arrancarei
os seus olhos
e os colocarei no lugar dos meus.
E tu arrancara
os meus olhos
e os colocara no lugar dos teus.
Então, eu te olharei com teus olhos
e tu me olharas com os meus.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 27 de julho de 2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fernando Pessoa


"Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor."

Fernando Pessoa