FECHADA PARA BALANÇO
Uma amiga querida enviou-me esse texto que reflete como vivo esse momento da minha vida! E apesar de estar há quase 2 anos sem postar, esse texto me tocou.
Fechou. Fechou para balanço. Esperou o último sair para baixar as portas. Fechou-se como quem sela uma carta, devagar. Lá dentro, um silêncio imenso assentou-se. Olhou para toda aquela bagunça, começou a experimentar uma sensação inédita, começou a enxergar uma certa paz abraçando o seu próprio caos.
Começou a ouvir um som desconhecido. Pela
primeira vez na vida ela estava ouvindo a voz de uma amiga antiga, uma
voz não, um sussurro baixinho. Pela primeira vez na vida ela escutava a
própria voz. Uma voz linda, a quem se arrependia não ter dado mais
ouvidos. Começou analisando com calma as receitas e despesas daquele
período. Ganhou mais do que perdeu? Investiu mais do que obteve retorno?
Acreditou demais em seus sonhos? O amor pede investimentos altos. Você
só percebe isto depois que pagou, depois que se deu como garantia.
Um dia a conta vem, já dizia sua mãe. Na
conta apertada, nos cálculos que não batem, entendeu que os estragos não
tinham sido suficientes para fechar as portas definitivamente, mas
quase. Antes de seguir, precisava quitar todas as dívidas, dizer o que
ainda estava para ser dito. Mesmo que não fosse mudar nada, mesmo que
não suavizasse suas perdas, suas despesas emocionais, precisava dizer.
Aquele peso não era só dela para carregar sozinha. “Deixe que ele
carregue também alguns dos encargos”, aconselhou aquela voz curtinha.
Após entender a dimensão do estrago, a
fundura para onde suas próprias escolhas cegas a levaram, começou a
enxergar que em meio ao caos, também havia estoque. Doze, quem sabe
quinze, caixas de amor próprio! Quem diria? Anotou num pedaço de papel
uma lista de tudo que poderia lhe salvar, de tudo que tinha sobrado de
si.
Anotou ali os poucos amigos que não
desistiram da sua companhia e também o seu gosto esquecido pela leitura.
Logo abaixo enumerou todas as caixas que continham o que a trazia para
mais perto de si: ficar em silêncio ao pôr do sol, tomar vinho enquanto
cozinha só para si, massagear os próprios pés assistindo pela quinta vez
seu filme preferido. Sim, ainda havia em estoque muito para se
descobrir sobre aquela mulher contida.
As portas permanecem abaixadas. Antes de
seguir, precisa estar certa de seus próximos passos. Havia uma voz,
pequenininha, crescendo e crescendo mais. Fechada para balanço ela se
aceitou sozinha, mas não solitária. Estava no lucro. Sozinhos é que
descobrimos que às vezes a melhor companhia já mora em nós.
Fonte: http://palavracronica.com/2014/02/05/fechada-para-balanco/