terça-feira, 16 de novembro de 2010

Silêncio

"My personal hobbies are reading, listening to music, and silence."
Edith Sitwell

Quando li a frase acima, fiquei pensativa e resolvi expressar meus pensamentos sobre o silêncio. Estar em silêncio ou ouvir o silêncio tem sido algo muito raro em nossos dias. Não ficamos mais em silêncio, não costumamos silenciar nossos pensamentos, não diminuímos o volume de nossa mente, e não aquietamos mais nossas mágoas ou frustrações.

No entanto, é necessário o silêncio, a pausa, o hiato sempre. Lembro-me de quando era criança e ficava horas em silêncio, fazendo meus deveres de casa, olhando para chuva que caia lá fora, tentando ouvir apenas as minhas idéias. Ouvia o barulho que só o lápis faz no papel, do folhear de páginas ou do bater dos pingos de chuva no vidro. E aquele silêncio me inundava, me preenchia e ficava muito feliz quando me sentia inteira com o silêncio - praticamente éramos uma coisa só! 

Por outro lado, ficava feliz quando meus pais chegavam em casa - e havia um barulho bom do tilentar da chave na porta, da porta entreabrindo, dos passos suaves de minha mãe ou dos passos firmes de meu pai que chegavam e quebravam o meu silêncio, assim de repente! Era preciso apreciar o silêncio para também poder valorizar os sons do cotidiano.

Nos dias de hoje, o silêncio não é mais como antes. O silêncio não está mais tão presente em nossas vidas e parece que os seres humanos não sabem mais ficar em silêncio, apreciá-lo e muito menos desejá-lo. Por que? Será que temos medo do silêncio, do nosso silêncio interior? Ou será que é mal-visto aquele que não tem o que falar ou aquele que não tem sobre o que falar, dar sua opinião?

E foi pensando no silêncio que o cineasta alemão Wim Wenders montou a mostra de fotografias Lugares, Estranhos e Quietos. A mostra que está no MASP (Museu de Artes de São Paulo) é composta por 23 fotos de até 6 metros quadrados feitas em diferentes países como Japão, Alemanha, Israel, Estados Unidos e Armênia. Abaixo, uma foto da cidade de Butte, no estado norte-americano de Montana, tirada em 2008.


Quanto tempo é possível permanencer em silêncio no turbilhão de nossa vida (pós) moderna? O que sentimos quando estamos em silêncio? Conseguimos permanecer em silêncio se acompanhados por outro alguém?

Refletir sobre o silêncio é pensar em algo que não se completa em si. É preciso ficar em silêncio! Exercitemos o silêncio... Com o poema abaixo, me despeço - em silêncio!

enquanto dormes
escuto os teus movimentos
nas brumas matinais,
escuto o teu sono
quando deitados estamos
e não faço outra coisa
a não ser olhar-te

sigo o caminho entre as brumas
e não pergunto quando se irão dissolver
não quero fazer mais perguntas

quero escutar-te, escutar o tempo,
o tempo em que estás,
o tempo que poderei estar perto

no silêncio recordo as palavras
que te desejo dizer
são as palavras
que não cabem neste espaço

(tu sabes, que a lua as conhece...)

penso-te no silêncio desta manhã,
como a linguagem
que quero falar...
mas agora, não quero falar,
só te quero escutar
enquanto dormes

guardo os teus movimentos,
escuto o teu sono
e não faço outra coisa
a não ser olhar-te,
pois em breve irás acordar
a qualquer momento...
Rui Luis  

2 comentários:

  1. Mais uma vez mergulhaste fundo.
    Lindo e belo seu texto e complementos.
    É quase impossível viver em completo silêncio.
    Por outro lado, como viver sempre sob a pressão do barulho e das solicitações incessantes do cotidiano de uma sociedade que tem cada vez mais pressa e multiplica seus ruídos por toda a parte?

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  2. Compartilho sobre os ensinamentos dessa filosofia do silêncio. É preciso silenciar para reorganizar nossa mente. Esse silêncio é necessário para nos esquecermos que todos ao nosso redor. Esquecer todos os problemas. Esquecer as mágoas. E quando não é possível esquecer, podemos encontrar no silêncio, um aliado que nos acompanha sem criticas nem observações. E depois de nos reorganizar nesse silêncio absoluto podemos encontrar respostar para os nossos anseios e voltar para a nossa rotina e podemos renascer para as pessoas queridas muito melhores do que quando não estavamos em silêncio.

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