quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Política...?? Sim!!



Em tempos de eleição, não é possível isentar-se do debate - pelo menos para mim. Os ânimos ficam exaltados e, muitas vezes, as paixões tomam conta.

O seguinte texto me foi encaminhado por uma pessoa muito especial e achei muitíssimo inteligente e interessante. I hope you enjoy it!

 
                                         
  
A Direita Urge - por Marcelo Carneiro da Cunha

         Estimados leitores, sim, a direita existe. Papai Noel talvez não exista assim lá muito concretamente, existem dúvidas quanto a real natureza dos duendes e da Jessica Alba, eu sinceramente creio que pensar em OVNIS é absoluta falta de tempo ou noção, e nunca vi uma mulher dotada de senso de humor, portanto, acho que não existem.
        Mas, a direita, estimados leitores, existe.
Ela faz que não, jura que se reformou e agora adora a humanidade, inclusive a que não possui conta em paraíso fiscal; ela assegura a quem estiver por perto que essa coisa de direita é ultrapassada e agora somos todos de centro, mas isso é, nas palavras da minha boa, sólida e direitista avó Jovita, papo pra boi dormir.
      A direita, estimados leitores, está aqui ao nosso redor, louquinha pra mostrar o que é bom pra tosse. Ela fez que saiu de cena e se mandou para o Maranhão, onde os Sarney cuidam de tudo e ninguém diz ai sem saber para que lado o vento sopra, mas não é verdade. Ela está aqui, ela está ali, ela está em toda parte, e sempre do lado da sombra, que é onde ela se sente mais à vontade.
      Se você caiu nesse conto do vigário e do bispo, de que a direita não existe, lembre que tanto o vigário quanto o bispo são os representantes dela vestidos em robes esquisitos ou em ternos de mau-gosto. Eles detestam as minorias, não é? Eles não querem saber de gays tendo os seus direitos constitucionais respeitados, não é? Mulher é tão inferior que não pode ser ordenada, não é mesmo?
      A direita faz que não está ali, que agora entrou pro mercado de ações e aprendeu a se comportar, mas ela é a mesma, estimados leitores. Ela não gosta de liberdades, tem pavor dessa tal de democracia, com a qual ela finge que concorda porque não há outro jeito. Ela nunca engoliu o sapo barbudo, e foi engolida por ele, mas não se conforma.
     A direita descobriu a internet, estimados leitores, e nos encheu de emails sobre o horror do PT e o fim do mundo que o Lula aprontou pra todos nós. Você não recebeu toneladas de mails raivosos e rabugentos nesses tempos e mesmo antes deles? Como se parecem esses mails? Eles não têm sabor de veneno e olhar de predador louco pela sua carcaça? Eles não ficam lhe avisando para se cuidar com tudo que está ali fora? Eles não lhe avisam que o que está ali fora quer terminar com a civilização ocidental e o direito divino dos que sempre tiveram tudo de continuar tendo? Eles não são basicamente contra tudo?
     A única desvantagem séria que a direita tem em relação ao resto do mundo, é que ela pode ser desprovida de respeito por você e de escrúpulos com relação a tudo, mas, felizmente, ela é burra. Ela ruge contra tudo que está aí, mas ela não compreende quase nada do que acontece.       
     Ela grita, mas não sabe, ela reclama, mas não propõe. Algum dos emails que você recebeu propunha alguma coisa que fosse utilizável por um cidadão de bem, ou não passava de denuncias tão malucas quanto improvadas?
     A direita, estimado leitor, não está nem aí para as provas, ou para a razão, pois ela não precisa de nada disso para viver. Para ela, basta a raiva. Algum email que você recebeu era raivoso?
     A direita se faz de boazinha e carola, e a gente diz, óoooo, que terna! Aí vem a eleição, e a maioria do povo não se mostra simpática a ela, e ela mostra o seu real rosto, em sua sublime feiúra. Sabe criança que se faz de boazinha, aí você diz não e ela abre o berreiro? Você recebeu algum email com berreiro recentemente?
     A direita sabe de ódio de classe, estimados leitores. Ela não entende, não aceita, não imagina um mundo de iguais. Ela diz que o Bolsa Família está destruindo a sociedade porque agora os mais pobres preferem não fazer nada a trabalhar nas casas deles. Você não recebeu mail sobre isso? Sobre os pobres preguiçosos que não querem mais trabalhar por migalha? Ela suportou o Lula porque não havia muita escolha e ele era espero demais para ela, mas agora quer vingança. Você recebeu emails pedindo vingança, estimado leitor?
     Alguns de vocês talvez achem que o nome do sistema define se ele é esquerda ou direita. Basta o partido ter social no nome para ser de esquerda. E portanto, nenhum partido é de direita, já que nenhum se anuncia assim. Não é o nome, estimados leitor, mas a atitude. Alguém aí duvida que o tal de DEM é de direita? Mas ele não se anuncia assim, não é?
     Assim, estimados leitores, e para simplificar as coisas, o Chavez é de direita, assim como o Bibi. O odioso Ahmadinejad e seus aitatolás são pra lá de Bagdá, se o assunto é direitismo. Cuba é de direita, a Rússia idem. A Europa Ocidental é toda de esquerda, em matizes que variam em torno da clássica social-democracia, o Brasil tem sido governado de um jeito de centro esquerda, a Argentina é peronista, o que quer dizer que não há como saber de que lado ela fica. Os Estados Unidos são de direita, mesmo que o Obama não seja ou goste disso, e a direita deles é ainda muito, mais muito cheia de raiva do que a nossa, até agora.
      Uma colunista foi demitida de um grande jornal de São Paulo simplesmente por escrever uma coluna que discordava da linha editorial do jornal, que é de direita. A imprensa brasileira, toda ela, não se assume de direita e diz que essas coisas não existem e que a imprensa é livre.
A colunista de um grande jornal de direita acaba de ser demitida por ser livre. Quem não gosta de liberdade são eles. Quem não sabe o que fazer com ela, são eles. Quem inventou que eles eram democratas, foram eles. Não são, deixaram isso claro, e, portanto, colocaram à mostra os seus mesmos e enormes dentes.
     A direita, estimados leitores, existe e ruge. O que você acha disso diz muito do que você é, do que o seu voto vai ser, e do que esse país vai se tornar.


Marcelo Carneiro da Cunha é escritor e jornalista. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.

Um comentário:

  1. Pois é. Que dizer de tudo isso? Dizer "é isso aí" seria um reducionismo simplório.
    Começo dizendo que todos os extremos (de direita e de esquerda) devem ser evitados. Os extremos andam de braços e abraços com as ditaduras explícitas.
    Mas existem as formas de dominação insidiosa, que invadem as mentes dos desavisados, fazendo-os crer que está tudo bem. História muito antiga essa. Lembram-se do "pão e circo" do Império Romano? É o que vemos em nosso mundo ocidental hodierno. Produção e consumo. Com uma lógica perversa: para manter o sistema é preciso sempre aumentar a produção e o consumo.
    Não vou nem falar do dinheiro virtual e dos créditos e fortunas podres e especulativas geradss pelo sistema financeiro internacional, à beira de uma falência.
    Menciono apenas que até um sujeito tosco feito esse que vos fala não consegue concordar com o crescimento "ad infinitum" da produção e do consumo. Mais cedo ou mais tarde haverá um colapso. Eles dirão que não entendo justamento por ser tosco. Muito curioso.
    Outro ponto maligno da questão é que hoje existem muitas empresas multinacionais com lucro superior ao do PIB acumulado de vários países, que acabam sem autonomia frente ao imperialismo econômico. E, notem, estou falando só do lado econômico. Nem toquei no assunto da invasão de outros países para a garantia de fornecimento de matérias primas ou para fins de conquista de posições geopolíticas estratégicas. Menos ainda da chamada contrapropaganda, que tenta convencer a todos de que o mal está sempre do outro lado da fronteira (alguma lembrança sutil de George Orwel em "1984").
    Mas o pior de tudo e olhar para o nosso destino como seres humanos. Cada vez mais, de uma maneira genérica, nosso valor intrínseco está ligado à capacidade de produzir e consumir. O direito à aposentadoria está sempre sendo postergado. Logo vamos nos aposentar para evitar o inconveniente de morrer trabalhando, fato que provocaria tumulto no processo produtivo. Além disso, as aposentadorias estão sendo constantemente reduzidas. Se não estamos no grupo dos produtores consumidores, a assistência médica têm sua qualidade brutalmente diminuída. E por aí vai.
    Na lógica do lucro e do dinheiro, certamente as pessoas valem menos que as empresas e seus balanços positivos. E os bancos sempre fazem a festa. Na crise econômica pela qual estamos passando, sempre há dinheiro sobrando para salvar as contas dos operadores financeiros, mas para salvar e oferecer qualidade à vida das pessoas, aí é outra história.
    Quandos séculos ainda teremos até que a humanidade veja que seu bem mais precioso é o ser humano?

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