terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

As pessoas de Pessoa


Fernando Pessoa, para mim, é o melhor poeta da língua portuguesa sem dúvida alguma. Quando paro para pensar como ele foi moderno para o seu tempo, chego à conclusão de que ele ainda é (ultra) moderno para nossos dias.

Por meio de seus tantos heterônimos, ele revela as várias personalidades que estão dentro dele e ainda consegue diferenciá-las muito bem através de estilos e temas distintos que aborda em cada um de seus heterônimos.

Pessoa escrevia de forma diferente, reverenciando temáticas diversas - apropriadas para cada "autor". É como se dentro de si, ele guardasse a personalidade de cada heterônimo. E essas personalidades poderiam ser  de uma pessoa bucólica, existencialista, patriótica, sentimentlista... Sendo assim, cada heterônimo é uma das pessoas dentro de Pessoa.
Seus heterônimos mais famosos são:

Alberto Caeiro - considerado o mestre de todos os heterônimos de Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso. 

Ricardo Reis - nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. 

Álvaro de Campos - nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário.

E o meu preferido é este último, por isso reproduzo aqui um dos seus poemas que me fazem pensar na existência humana.

      MAGNIFICAT
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro(*) sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
    Álvaro de Campos, 7-11-1933
Tenho dentro de mim também muitas pessoas, muitas personalidades, muitas facetas. E a poesia de Pessoa consegue tocar cada uma delas, despertando em mim sentimentos distintos. E sentimentos que se entrelaçam, se completam e se contradizem... Sou assim  - como qualquer pessoa!

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